Panorama

Pelotas começa a calcular estragos do ciclone

As quedas de árvores interromperam o trânsito na avenida Bento Gonçalves, parte da Adolfo Fetter e da José Maria da Fontoura

Foto: Jô Folha - DP - Pela manhã, cenário era de destruição pela cidade

O ciclone que atingiu a região sul do Estado tomou força na madrugada desta quinta-feira e causou muitos estragos por onde passou. Em Pelotas, são mais de 300 árvores caídas pela cidade e muitas ruas alagadas. As quedas de árvores interromperam o trânsito na avenida Bento Gonçalves, parte da Adolfo Fetter e da José Maria da Fontoura, além das rodovias BR-392 e ERS-734.

O vento forte, que chegou a 71 quilômetros por hora no Município, fez com que o número de clientes sem luz na manhã de ontem passasse de 117 mil para 130 mil, o que trouxe consequências para o abastecimento de água na cidade. Quem circulou pelas ruas viu cenas devastadoras, como tapumes, outdoors e parapeitos de lojas desmanchados. Só os bombeiros de Pelotas atenderam 80 chamadas até a tarde de ontem e ainda havia 60 pedidos na fila de espera. As aulas foram suspensas e a Prefeitura já prepara para um local para possíveis desabrigados, caso o canal São Gonçalo transborde.

A suspensão das aulas evitou que uma tragédia ocorresse na Escola Municipal Fernando Osório, pois o vento causou o desabamento da cobertura do ginásio. Já no bairro Fragata, o muro da Escola Fernando Treptow desabou após a queda de uma árvore. O mesmo ocorreu com a proteção do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case). Uma imensa árvore, com quase 2,5 metros de diâmetro de raiz e que ficava no pátio tombou em direção à rua, abalando a estrutura de um poste. Uma equipe da CEEE que estava no local, isolou a área, pois ainda os fios ainda estavam energizados. "Primeiro nós avaliamos por onde passa a energia, depois fizemos o desligamento, para então pensar em podar algumas partes da árvore para recuperar a estrutura e restabelecer a energia", disse um funcionário que não quis se identificar.

Na praça Coronel Pedro Osório, em diagonal à rua Félix da Cunha, a queda de uma árvore bloqueou a entrada do banheiro público. Na avenida Bento Gonçalves com Andrade Neves, a via central ficou praticamente toda manhã interrompida para o trabalho das equipes da Prefeitura para a retirada do tronco que atravessou a via no sentido bairro Centro. A poucos metros dali, dentro do parque Dom Antônio Zattera, uma raiz gigantesca ficou à mostra após a árvore tombar. A situação levou muitos motoristas a redobrar a atenção no trânsito, pois a pouca visibilidade em função da chuva se agravou com a ausência das sinaleiras no principal cruzamento da avenida Bento.

Trabalho também para os agentes de trânsito que desde as primeiras horas precisaram controlar o fluxo de veículos na rótula da ponte sobre o Arroio Pelotas, impedindo a passagem de carros na via de acesso à praia. Isto porque o temporal levou abaixo não só uma árvore, mas um poste com transformador e ainda quebrou outras duas estruturas de concreto. A cena é assustadora e deve levar bastante tempo das equipes da Prefeitura e da CEEE até recompor toda a fiação e, assim, estabelecer a energia elétrica ao bairro Laranjal que está completamente sem luz. Logo depois do emaranhado de galhos, folhagens e fios, percebe-se que outras estruturas também tombaram, causando prejuízos aos moradores e comerciantes da estrada que leva à praia. Ainda pelo caminho, foi possível notar a força do vento que arqueou os juncos e uma área entre as duas entradas dos balneários Santo Antônio e Valverde.

Noite de pânico
Para os moradores do bairro, o final da tarde de quarta-feira já desenhava o que viria pela frente. O vento forte fez com que a Lagoa avançasse para a areia e, em certo momento da tarde, não se via mais a estrada para o pontal da barra. Com a mudança de direção, a água baixou e liberou a passagem para a comunidade pesqueira, mas deixou dois pontos alagados na avenida da praia, assim como

as ruas adjacentes da praia. Nem a avenida Arthur Augusto Assumpção, recém asfaltada, escapou do aguaceiro. No cruzamento com a avenida Espírito Santo, era como se a lagoa tivesse se transferido para o local. Veículos com tração até se arriscaram passar para a rua São José do Norte, entre a praia e a Espírito Santo. Mas no meio do caminho o condutor desistiu.

Do outro lado, pela avenida José Maria da Fontoura, os antigos eucaliptos não aguentaram a força do vento e viram abaixo, pelo menos dez árvores tombaram levando muitos postes de energia elétrica junto. Dois deles caíram sobre o muro da casa do advogado Érico Ferrer, 57. "Foi uma noite terrível. Não dormimos nada, principalmente depois que as árvores caíram, por volta das 3h", descreveu. Sobre tentar recuperar os prejuízos, o advogado ficou em silêncio, pois diz que a situação é recorrente toda vez que tem temporal. "Olha para a raiz da árvore, não tem estrutura para aguentar o peso. Eu já havia pedido para elas serem retiradas, mas não fui atendido", lamentou.

Mais estragos
O levantamento feito pela Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA) indica que aproximadamente 60 árvores de porte médio e grande foram derrubadas pelo vento. O trabalho de remoção dos troncos e galhos caídos sobre ruas, avenidas e imóveis é a prioridade das equipes da Prefeitura e do Corpo de Bombeiros. O grande número de árvores derrubadas juntamente com fios elétricos energizados torna o trabalho mais lento devido a necessidade de desligamento da rede para a realização da remoção.

 "Não há um local com situação mais grave, se tem problemas na costa da Lagoa, no centro da cidade houve muito impacto, mas há casos em todos os bairros. O cenário é desolador e se pede para a população ter paciência, pois as equipes estão trabalhando da melhor forma para minimizar os danos, mas há muito o que fazer e o trabalho seguirá durante toda a semana", diz Eduardo Schaefer, secretário de Qualidade Ambiental.

Ocorrências

- Estrada do Quilombo - 7º Distrito ficou interrompida por queda de árvore.

- Ecosul removeu árvores que caíram e bloquearam partes da BR-392 nos quilômetros 117 e 120. No quilômetro 94 da rodovia, houve uma queda de barreira, mas o trânsito já flui normalmente em todos os pontos, segundo a concessionária.

- Rotas do transporte coletivo também foram prejudicadas, principalmente nas linhas para a Colônia de Pescadores Z-3, colônias Santa Silvana, Rincão do André, Grafite, Cachoeira do Arco-íris e Vila Maciel, que ficaram completamente interrompidas. Houve interrupções na avenida José Maria da Fontoura, na avenida Cristóvão José dos Santos, na Cohab Tablada e na avenida Brasil, no Simões Lopes.

- Além de ônibus, os usuários também não puderam contar com algumas estruturas nas paradas de embarque e desembarque, pois elas foram arrancadas pelo vento. Fatos foram registrados com as estruturas laranja na Guabiroba e no Laranjal.

Na quarta-feira, o ciclone fez o piloto de um avião, que saiu de Guarulhos com destino a Pelotas, arremeter e retornar ao aeroporto de origem.

Pelo Centro de Pesquisa e Previsões Meteorológica da UFPel, às 3h01min, Pelotas registrou vento de 61,2 quilômetros por hora. Já na estação do Aeroporto, a medição foi de 71 quilômetros por hora.

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